O que mudou um mês e pouco em casa...

 
Olá a todos, penso que não tenho escrito o suficiente por aqui, não foi por falta de tempo, mas sim falta de inspiração… Neste mês que para muitos portugueses foi de quarentena, para mim já vão mais ou menos dois meses em casa sem sair, mas em casa desde do fim de novembro devido a outras razões. Quero partilhar com vocês o que mudou neste tempo… 

No dia 13 de março foi decretado em Portugal o estado de emergência e consequentemente o fecho de escolas, pessoas enviadas a trabalhar desde casa ou despedidas ou lay-off. Desde da terça-feira passada as escolas começaram a dar aulas á distância e para a semana teremos o regresso da Telescola.
Perguntamos o que mudou? O que mudou na vida e na mente das pessoas durante este tempo que passámos em casa… Ao som dos incríveis Efecto Mariposa, ao som da incrível e única Susana, posso dizer que mudou muita coisa, pelo menos comigo… Acho que ficaria mais tempo em casa sem grandes alaridos, mesmo assim queria voltar a trabalhar, saudades dos meus queridos meninos!
Por estar mais tempo em casa do que a maioria, passei a parte difícil mesmo antes da pandemia começar, aquela fase em que sentimos a necessidade de querer sair, de querer ir passear, de ver pessoas e de conversar com elas nem que seja o velhinho ali da esquina que está sentado num banco de jardim a ler o jornal, ou a empregada do café que sabe sempre o nosso pedido de cor.
Andamos meio doidos em casa, uma mistura de emoções e sentimentos, desde medo, tristeza, felicidade, euforia, desejo entre muitos outros… Passei essa fase, mais aquela do aborrecimento…
Aprendi que as pessoas são muito diferentes nas suas reações, algumas têm tanto pavor que se fecham em casa e desinfetam tudo, outras embirram com as outras, outras se põem histéricas, outras ainda gostam de ver mil notícias, mil vídeos e informações sobre o assunto, outras ainda são tranquilas e vão para o mundo delas e tá feito. E eu ? Quem era eu nestas situações?
Eu surpreendi-me a mim mesma nesta situação. Eu era muito emotiva, levava tudo a peito, vivia imenso cada situação e isso acabava por me colocar numa situação de saúde frágil devido ao stress.
Desta vez, quando os meus pais no fim de fevereiro pediram-me que ficasse em casa porque tenho uma saúde débil devido á MSUD, simplesmente disseram ficas e não sais. Eu fiquei tranquila porque era para proteger-me que estavam a fazer isto… Ainda saímos dia 8 de março para almoçar fora, e já tínhamos visto os primeiros sinais de medo das pessoas, muita dificuldade em encontrar um restaurante onde comer. Em casa, foram tomadas medidas de higiene, álcool em gel, máscaras chegaram a casa desde da farmácia ainda não havendo casos aqui, neste momento também quase não temos casos (talvez uns cinco).
Nos primeiros dias via notícias de manhã á noite, mas começou a afetar-me psicologicamente, sentia-me demasiado invadida de informação, uma ansiedade e um medo que não eram meus, mas sim da própria televisão e das notícias que nos bombardeavam a cada segundo… Decidi que tinha de fazer algo para manter a minha sanidade mental. Tinha os meus dois pais a trabalhar na linha da frente, a minha mãe só ia dois dias ou três ao hospital trabalhar e o meu pai quase não saia do hospital dia e noite. Em casa quase não vinha, quando vinha era de máscara e com todos os cuidados por causa de mim… A senhora que limpava cá em casa foi dispensada, coitada ela não entendia o porquê, mas os meus pais queriam proteger-me e não ter estranhos cá em casa foi a única forma.
Tenho 25 anos, uma doença rara e trabalho no meio dos miúdos que os pais ingenuamente enviam para a escola mesmo constipados ou com gripe, não pensam que do outro lado há professores que são tipo esponja apanham tudo e a leucina sobe e o problema fica comigo… Já aconteceu centenas de vezes até de apanhar de colegas as gripes que traziam consigo (desculpem nunca vos ter dito isso) e eu detesto ficar doente, porque doente não sou eu é outra pessoa que vive temporariamente no meu corpo.
Bom, tendo a tensão cá em casa aumentada, uma mãe que foi a correr ás compras na véspera do estado de emergência, como alguns portugueses. É estranho para mim ainda hoje meter luvas, deixar as botas na rua e meter máscara sempre  que vem o carteiro, ao pobre já o devo ter assustado um monte de vezes… Quem acompanha o meu Facebook, os meus diários da quarentena que tendem a ser ocupados e divertidos, tentam levar á melhor estes dias de confinamento…
Já lá vai um texto enorme e ainda não cheguei onde queria com este texto, desculpem mais uma vez pelo testamento… Onde ia, ah, já sei… Ia mantendo-me ocupada, tentando tirar alguma carga á minha mãe. Sou autista também e gosto da rotina, foi a falta dela desde novembro que me fez dar em doida em casa e descambar a minha saúde e valores de leucina durante esses meses.
Bom, sabia que tinha de manter a calma porque se não a senhora leucina vinha por aí acima, daí ter de arranjar uma rotina minimamente fácil de cumprir.  E assim fiz acordar até ás nove da manhã, vestir-me como um dia normal, fazer a cama (coisa que nunca fazia por falta de tempo de manhã), tomar o pequeno almoço e por aí fora… Depois de uns dias, descobri que ficar a jogar no computador ou ver uma série todo o dia não ajudava a que conseguisse dormir á noite. Mudança de hábitos algum exercício físico semanal (30 a 40 minutos em casa na companhia do PT Ricardo), aliado a um livro antes de dormir melhorou muito o meu sono e acabou o cansaço. Nos dias em que não posso fazer exercício limpo a casa, ajudo a minha mãe nessa tarefa quando as aulas online da minha irmã não interferem.
Organizar o espaço á minha volta foi uma grande ajuda no início, por isso em fevereiro dei uma arrumação geral e profunda ao meu quarto, doei muita coisa, livrei-me de papelada e neste mês estou a fazer o mesmo com o meu computador e disco externo. Continuo a manter o contacto com os amigos e familiares pelo WhatsApp e Facebook. Tento esquecer nesses momentos o vírus e o que estamos a viver e concentro-me noutros assuntos…
Quanto ás notícias, sou "obrigada" a ver o telejornal ao almoço e ao jantar, mas só vejo metade praticamente… Perco a paciência mesmo… Durante este tempo em casa as oposiciones de Espanha foram adiadas para o ano seguinte, senti-me meio inútil porque era o meu escape ir lendo, estudando para esse exame. Os malditos 69 temas de português!
Com tudo isto, tive de descobrir o que fazer e inscrevi-me em cursos online que era o que estava a fazer desde dezembro do sindicato espanhol de Comisiones Obreras que conta para esse exame e vou aprendendo coisas novas sobre educação. O que na realidade descobri que eu própria adoro aprender coisas novas e antes não o fazia… Claro, também tenho saudades da liberdade, de sair, ver os meus amigos e andar de autocarro e ver essa paisagem… Agora entendo a minha cadela quando fica sozinha em casa, também tenho saudades dessa solidão e silêncio em casa. Aprendemos a apreciar o simples sem dúvida!
Outra coisa que descobri neste tempo foi o riso, eu pensava que o riso incluía alguém outra pessoa que estivesse contigo, mas os vídeos da quarentena, os próprios humoristas portugueses (Helfimed e Raminhos) ajudam a passar o tempo a rir, a esquecer tudo isto! A criatividade das pessoas nesta altura é o melhor que posso ver!
Além disso, ouvir os nossos cantores em concertos em casa faz-nos dar valor á música aqueles concertos que fomos e não fomos e deveríamos ter ido é a melhor memória que podemos guardar. Ir a mais concertos depois, sim com certeza!  (saudades de Badajoz!).
A capacidade de adaptação do ser humano e os momentos de aborrecimento que nos podem dar as melhores ideias são incríveis e neste tempo vi o quanto adaptáveis somos nós! Não sei quanto tempo vai durar mais, nem quero pensar nisso sinceramente! Mudei para melhor com esta experiência e quanto tempo mais durar só o quero aproveitar da melhor forma! Há muito para fazer em casa e fiquem em casa!

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