Falamos de desejos e sonhos...

 


Todos nós temos sonhos que guardamos nas nossas caixas pandora, que não partilhmos com todos, só com quem é mesmo especial para nós... 
Existem sonhos desmedidos de porpoção, e temos aqueles que parecem bastante simples de concretizar...
Todos os anos, sempre fazemos aquela lista de propósitos para o novo ano, aqueles 12 desejos que em passas ou uvas tentas acreditar que se vão realizar em 365/366 dias.    E temos aqueles sonhos que guardamos algures na nossa mente, que um dia não sabemos quando queremos vê-los concretizados... Tenho alguns nessa categoria, tal como um dia ser mãe. 
    Mas... há outro bastante mais antigo que esse que quando o digo pensam o típico "Ah não sabes aceitar a doença que tens?" ou "Só queres é livrar-te dela"... Sejamos honestos nasci assim, não por escolha, pela sorte ou azar dado pela genética... Aquela lotaria que não sabemos como ás vezes nos toca....
    Eu aceito o que tenho, encaro com o humor de todos os dias, sei que sou uma guerreira, mas nunca ninguém me perguntou se era isto que queria. A minha resposta é não.... 
    Se pudesse estás a ver aquele bacalhau da consoada comia-o de bom agrado, ou aquele ovo de chocolate na Páscoa, ou o simples frango.
    Por detrás da comida escondem-se dificuldades na socialização, nas ditas festas e encontros sociais. 
Uma vez uma professora minha perguntou-me "Não lhe dá vontade de comer isto ou aquilo quando o vê na mesa?" Sim, deu e dá vontade... Há dias bons com a patolgia, também os há menos bons quando nos sentimos "revoltados" e queriamos só ir ao frigorífico e comer qualquer coisa que tanto desejamos. Passo isso com carne, camarão, chocolate ou bolachas maria, até quando aquilo que te é permitido comer só um bocadinho e tu querias mais...
    O transplante poderia dar-me essa liberdade, apesar dos riscos que iria correr, penso que os ganhos seriam mais do que as perdas. Acaba-se o "leite" obrigatório que não gosto e ás vezes é um castigo ter de o beber. Era poder provar e comer sem restrições, poder viajar sem me preocupar com uma mala cheia de comida, procurar um lugar onde pudesse cozinhar... Deixar de pedir num restaurante que te aqueçam a comida e ver aquela cara de "frete" por ter de o fazer. Poder fazer o teu lanche sem ter medo que chamem a policia a pensar que aquele pó é droga e na realidade é uma fórmula. Ou ir de avião e não mudar a tua rotina nem ter medo do segurança para mostrar uma parafernália de papéis devido á formula na mala de mão. 
Acho que não sei se são todas as pessoas e médicos, mas não têm ideia do limitativo é viver com comida sempre atrás. 
Penso que deveriam ouvir mais os doentes até os que são adultos e pedir a opinião deles sobre o tratamento que levam. Fazer contas constantes de quantos gramas podes consumir e se estás doente tirar a proteína, aumentar a fórmula e mais uma toma de fórmula. 
O meu desejo simples um copo de leite, um iogurte com bolacha maria. Sim é ridículo, mas era o que eu queria. Conhecer uma pessoa e quando chega aquele convite para almoçar teres de explicar que olha não posso comer nada, lamento. Pelo menos ficaria em conta por não ter de pagar a conta no restaurante porque somente levaste a comida para comer lá. 
Se pudesse faria o transplante pelo gosto da liberdade de quem pudesse comer de tudo sem medos, porque ás vezes recusava experimentar algo novo porque o facto de ter medo de gostar e ter a tentação de querer mais do que aquele bocadinho é muito complicado. 
Neste ano, vi-me arrastada para casa sem poder excercer a minha profissão de professora por ter esta patologia que se descontrola com infeções (covid e outras) podia levar-me para o hospital internada e com perda de capacidades neurológicas. Sim, esse é um dos meus grandes medos diários... 
O meu desejo uma cura, um transplante algo que me dê essa doce e salgada liberdade de viver sem barreiras!

3 comentários:

  1. Oi Catarina Costa.
    Li seu texto e fiquei pensando na sua vida de professora com essas limitaçoes que diz ter. Ja deu aulas depois de ter acabado seu curso? Como foi suas experiencias? Como é ensinar em Portugal? Falou aos seus alunos dessa sua patologia? Me conte. Seria interessante escrever sobre isso.
    Em Brasilia a gente que tem essa patologia vive normal, faz sua vida normal e os alunos vibram com o aprendizado.

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    1. Olá boa noite, sim dei aulas dois anos fora do país em Espanha e um ano nos Açores. Os alunos souberam que tinha esta patologia e comportaram-se muito bem tentando sempre integrar-me, além das perguntas que tinham sobre a patologia e as suas limitações. Sim conheço algumas pessoas no Brasil com a minha patologia. Algumas fazem a vida normal, outros infelizmente não. Obrigada pelo teu comentário, espero ter respondido ás suas questões. Tens um post sobre a minha experiência nos Açores, Ilha das Flores. Em Portugal, o problema do ensino a meu ver é a falta de oportunidade que dão a quem terminou o curso que tem de "andar a passear" o país ou esperar todo o ano por uma colocação. O acesso ao quadro é muito limitado e a maioria dos professores do quadro são idosos. Os miúdos não achei muito complicados.

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  2. Oi Catarina, boa tarde. Tudo legal? Você esteve em Açores na Ilha? Que bacano. Como conseguiu? Minha esposa esteve tentando ir pra lá, mais os concursos eram bem difíceis. Horário completo lá? Como foi sua estadia lá? Meus primos estiveram em Terceira, você conhece? Não encontro seu texto dessa experiência na ilha, mas fiquei bem interessado. Cá em Brasilia ser professor tem sido bem complicado, viu. Meus quatros irmaos são professores e há muita instabilidade. É triste né? Onde está a ensinar agora Catarina? Estou ensinando em ensino médio, tenho 286 alunos. Os alunos cá sao dificeis, nao respeitam os professores e é um saco, em Portugal não é assim não? Minhas colegas portuguesas me dizem que tá bem complicado ai também ...

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